E tá tudo bem, neném

12 julho, 2013
O contexto pode ser definido numa frase – sem floreios, truques de linguagem. Direta e simples. “Stereotypes of a black male misunderstood, and it’s still all good”. Estereótipos sobre um homem negro mal interpretados, e ainda tá tudo bem. Fim da segunda estrofe, antes do gancho. Biggie está falando de e para quem ele dedicou a música no começo, em seu conto de ascenção – na época, ele já tinha uma nota, mas não aquela que ele quer mostrar na letra. Ainda assim, se deu bem melhor do que o previsto (até tomar uns pipocos, vdd). Estereótipos de um homem negro mal entendidos. Mas também explica o resto. Preto e dinheiro são palavras rivais? Então mostra pra esses cu como é que faz.
A politização radical do rap nos EUA começou a arrefecer, em diferentes modos, a partir do fim da recessão dos anos 80 que quase esmagou a comunidade negra do país. O velhinho barbudo tava certo, e a economia influencia a vida artística mais do que muita gente gostaria de admitir. Nos anos 00, a partir do fim da recessão do segundo mandato FHC (entre outras questões de contexto, isso aqui é rápido demais para abranger tudo – uma hora abrimos com mais calma essa história), do pleno emprego, da redistribuição, mesmo que minguada, de renda, a música também muda. Mas a raiz permanece. A luta se transforma em outra, maior e mais difusa, e dialoga com outras coisas – e talvez com o maior dilema atual do novo século, o do cidadão enquanto consumidor.
Estereótipos de um homem negro mal interpretados. Não é só sobre o currículo escolar um homem negro. É sobre o que ele tem o direito de desejar, que papel na sociedade ele tem o direito de ter. O Mega Drive E o Super Nintendo. O diamante no brinco da filha e a champa no lugar da água. Lembra qunado eu só tinha sardinhas pra comer no jantar? Explica ao mesmo tempo o aspecto triunfalista no rap do Emicida e alguns dos seus imitadores, o funk ostentação, o rap de Planaltina. E tá tudo bem, neném. Se você não sabia, agora tá ligado.

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